terça-feira, 7 de outubro de 2008

catando reações

esse fim de semana ouvi uma história na minha família que leva a um questionamento interessante sobre nossa capacidade em rir nas adversidades.

dia desses, uma amiga do meu tio estava num ônibus em um dia útil comum, quando 2 rapazes armados entraram e um deles, educadamente, anunciou o assalto:
'pessoal, isso é um assalto. coloquem seus celulares e suas carteiras no colo que meu amigo vai fazer a coleta. ah! e queria aproveitar pra dizer que hoje é meu aniversário e pedir a todos vocês que cantem parabéns pra mim'.
todos se entreolharam sem acreditar no pedido (perai! pedido de pessoa armada é ordem não?).
um velhinho entusiasmado (que já deve ter aprendido a ironizar o trágico) puxou as palmas e pouco a pouco todo mundo no ônibus foi entoando numa só voz 'o parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida'.
não satisfeita com a cena bizarra no qual contracenava, uma moça espirituosíssima levantou-se com o 'é pique, é pique, é hora, é hora, ratimbum, seu ladrão, seu ladrão, seu ladrão!'.
o ladrão olhou simpático pra ela e disse 'taí, gostei de você' e devolveu o celular e a carteira da moça.
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e ai? nessas horas você iria morrer de rir? ou iria morrer de raiva?
afinal, não basta ser roubado, você ainda tem que homenagear o ladrão.
sem dúvidas naquele ônibus rolou ambas as sensações.
você poderia fazer como a moça, ir até o 'com quem será?' pra ganhar a simpatia do ladrão.
ou você pode ser um idealista de esquerda comprometido com a inconformação e que jamais seria co-participativo com o bom humor de um criminoso da sociedade.
ou você simplesmente tá muito puto porque seu celular foi caro, todos os seus contatos estavam ali, vai ter que resgatar seus documentos e não há nada que possa fazê-lo rir deste inconveniente.
bem, acho que certo mesmo tava o velhinho que puxou os parabéns, talvez porque foi o primeiro a demonstrar temor pela própria vida (sentimento de todos presentes) ou simplesmente porque 'quer saber? to aqui pra perder mesmo. vou fazer desse momento uma história pra contar em casa'.

pronto, catei.
Cata S.

2 comentários:

flavia disse...

quando fui semi-sequestrada, eu coloquei música pros meus algozes, perguntei se o som agradava e ainda fiz conta de gasolina para eles. não foi bem um parabéns à você mas tive lá meu jogo de cintura para não entrar em pânico!

esse recife nos coloca em situações cada vez mais bizarras!

=*

Anônimo disse...

Na noite que li esse post, sonhei que roubavam meu celular...
Tás influenciando até meus sonhos, danada!!! hehehehehe
Beijo!